domingo, 24 de setembro de 2023

Como as redes sociais hackeiam sua mente



Redes sociais são grandes fontes de dopamina não só porque a conexão com nossos amigos é divertida. Elas foram projetadas para sentirmos prazer, para que cada usuário fique imerso por horas naquela “realidade”. 

Jeff Orlowski, em seu documentário“O Dilema das Redes”, mostra como desenvolvedores de sites e redes sociais como Facebook, Instagram, Pinterest e Gmail, projetaram o design desses produtos com base em estudos sobre psicologia comportamental. 

O ponto de encontro entre programação e psicologia é o Laboratório de Tecnologia Persuasiva da Universidade de Stanford. Com o objetivo autodeclarado de ensinar os programadores do Vale do Silício – região da Califórnia, conhecida por ser o lar de algumas das principais empresas de tecnologia do mundo como Google, Facebook e Netflix – a transformar o comportamento dos usuários de seus produtos. Para cumprir esse objetivo, o laboratório recorreu à obra de um dos maiores especialistas em comportamento do século XX, Burrhus Frederick Skinner. 

Ele ficou conhecido pelo seu estudo na área comportamental da psicologia, em especial sobre esquemas de reforçamento. O psicólogo, por meio do Condicionamento Operante, buscava modificar comportamentos por meio dos “esquemas de reforço”. O esquema de reforço ensina o cérebro pela consequência após a ação. Se determinada ação é classificada como “boa”, há um estímulo positivo para que o cérebro repita essa ação no futuro. Quando uma ação é classificada como “ruim”, acontece o contrário: por meio de um estímulo negativo, busca-se ensinar o cérebro a não repeti-la. 

Nas redes sociais os reforços positivos são constantes: curtidas, comentários em publicações e atualização dos feeds. 

Esses elementos são chamados de reforçadores de razão variável, porque nunca se sabe quando ou em que quantidade essa recompensa virá, como se fosse em uma máquina caça-níquel. Por meio dos esquemas de reforçamento, gradualmente o usuário das redes sociais passa a agir como um apostador: toda vez que olha para o celular, sente vontade de checar seus perfis para ver se há algum prêmio reservado para ele. Quando esse prêmio está lá, ocorre a liberação de dopamina. Isso ocorre diversas vezes ao dia e exige pouco esforço do usuário, que deve apenas se manter conectado e ativo. 

“Eu estou sempre com o meu celular por perto, por mais que eu não esteja usando, o celular está ali”, afirma a estudante de Publicidade e Propaganda e Influencer Digital, Luísa Jurack Leite, de 19 anos. Luísa usa o Instagram como sua ferramenta de trabalho, seu perfil fala principalmente sobre moda e possui mais de 16 mil seguidores. Pela satisfação e retorno financeiro, a estudante avalia positivamente seu uso da rede social para trabalho, mas admite que poderia melhorar o seu uso como forma de lazer. Com a pandemia, o Instagram tornou-se a sua principal fonte de entretenimento e informação. Mesmo fora do trabalho, ela continua boa parte do seu dia conectada. 

“É uma relação de trabalho, mas, ao mesmo tempo, uma relação de dependência porque eu passo quase 70% do meu dia no Instagram”, afirma. Para o cérebro é muito mais fácil passar um grande período de tempo nas redes sociais ao invés de realizar outras atividades como exercícios ou estudos – isso ocorre devido ao pouco esforço que essas práticas exigem para se obter dopamina. 

Afinal, o que parece melhor: sair em pleno verão e correr um quilômetro ou ficar uma hora observando o feed? Mas esse estímulo fácil tem um preço. 

As cargas extras de dopamina ao longo do tempo levam o cérebro a entender que não precisa mais produzir o neurotransmissor nas quantidades habituais. Assim, é preciso gastar cada vez mais tempo nessas atividades para se obter o mesmo nível de prazer. “Sem notar, passaremos a jogar mais, fazer mais sexo, comer mais, fumar mais e etc. em troca da felicidade, da liberação de dopamina”, adverte King. 

Dependência digital X dependência patológica 


Segundo Anna King, todos nós somos dependentes digitais. Mas antes de procurar a primeira clínica de reabilitação disponível, calma. Isso não significa que você tenha um problema grave. 

Dependência digital é o uso da tecnologia em nosso dia a dia, para crescimento pessoal, lazer ou trabalho, como o home office. “Você é dependente da tecnologia, como se você dependesse da sua agenda de papel, mas isso não quer dizer que você está doente”, argumenta a psicóloga. A dependência patológica, chamada nomofobia, atinge cerca de 15% da população. Anna King explica que a doença geralmente está relacionada com outros transtornos psicológicos como ansiedade, depressão, fobia social, síndrome do pânico e dismorfia corporal. 

Por esse motivo é importante a quem considera excessivamente dependente da tecnologia buscar ajuda profissional, pois o problema pode estar além de passar muitas horas na internet ou em videogames. 

O grande período de tempo imerso no mundo virtual se torna um refúgio do mundo real. “Geralmente quem busca muito acessar tecnologias em busca de prazer procura preencher algo que falta nele”, afirma. 

A psicóloga pondera que o principal motivo para o uso excessivo das tecnologias é a falta de conscientização sobre o tema e não algum distúrbio mental. “Isso não é vício patológico, isso é uma falta de educação digital”. 

Por isso é importante consumir vídeos, matérias, livros e outros tipos de conteúdos que falam sobre o funcionamento das redes sociais. 

Entender como e porquê elas nos afetam é o primeiro passo para impor limites e usá-las de forma mais saudável. 


quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Como a dopamina afeta sua vida





Seja por causa das redes sociais, seja por conta da rotina de exercícios físicos, fala-se muito sobre a dopamina. Porém, mais do que um termo médico utilizado à exaustão para falar sobre os mecanismos de prazer do cérebro, essa substância tem funções muito mais importantes do que se imagina. 

A dopamina é um neurotransmissor pertencente à família das catecolaminas. Ela é liberada em várias partes do cérebro e atua em diferentes funções. Por exemplo, ela leva informações de um neurônio a outro, regulando o humor, sensação de prazer, compensação e regula algumas funções endocrinológicas, como o apetite. 

 "A dopamina está relacionada com o chamado sistema de recompensa, que é um circuito neuronal no cérebro que influencia diretamente as nossas emoções", explica a Dra. Paula Pires , endocrinologista pela SBEM. "Esse sistema garante a motivação para realizar certas atividades, como a sensação de felicidade quando comemos ao ter fome. 

Quando os neurônios desse sistema são ativados, eles liberam a dopamina em regiões específicas do cérebro, causando o aumento da sensação de prazer." É por causa desse mecanismo, aliás, que as redes sociais se transformaram no fenômeno que elas são hoje: ficamos viciados em likes, em drogas e até mesmo em comidas calóricas por conta do sistema de recompensa desencadeado pela dopamina. 

QUANDO A DOPAMINA É LIBERADA? 

Mas o que estimula a produção de dopamina? Justamente os momentos prazerosos que vivemos. Pode ser a alegria de receber um like em uma foto nova que você postou, a sensação que tem ao comer um bolo gostoso, até mesmo o prazer que sentimos ao transar com alguém ou durante a masturbação. Com isso em mente, fica fácil entender porque a dopamina está diretamente ligada ao sistema de recompensa do nosso cérebro. Ouvir uma música que você gosta, trabalhos manuais e até mesmo o cheiro de um bolo que você está assando no forno podem desencadear a liberação dessa importante substância, que possui inúmeras funções no nosso organismo, como aumentar a motivação, o foco e a concentração. 


ALIMENTAÇÃO X DOPAMINA 

Aliás, a conexão da dopamina com a alimentação vai além dos alimentos calóricos. Existem, de fato, uma série de itens que podem colaborar para a nossa sensação de bem-estar gerada pela liberação desse neurotransmissor no organismo. 

Você sabe, por exemplo, qual a fruta que tem mais dopamina? Abacates e bananas. 

Alimentos ricos em tirosina, que colaboram para aumentar os níveis desse neurotransmissor no organismo: Ovos, Peixes, Carnes, Feijão, Soja, Sementes, de abóbora, Gergelim, Laticínios como leite, queijo e iogurte. 


EXCESSO DE DOPAMINA EXISTE? 

Uma pergunta importante: é possível sofrer de excesso de dopamina? E a resposta é "sim". 

"A esquizofrenia está relacionada com os níveis de dopamina no cérebro", explica a Dra. Paula. "Esse transtorno é provavelmente decorrente de níveis elevados ou então desregulados de dopamina no cérebro. Diante disso, o tratamento para esquizofrenia inclui fármacos que bloqueiam os receptores de dopamina." 

Todo mundo gosta de sentir prazer e ter momentos proveitosos, porém, a dopamina em excesso pode levar a quadros como o descrito acima ou pode, ainda, desencadear uma série de comportamentos que, a longo prazo, são prejudiciais para a vida de alguém. 

Veja alguns sintomas de excesso de dopamina: 

 Buscar sempre atividades que desencadeiam prazer: ou seja, você tem uma tendência ao vício 

 Ser muito extrovertida 

 Ter momentos de agitação intensa, seja na fala, seja de pensamentos 

 Sentir-se constantemente desconfiada das pessoas ou paranoica 

 Costumar ter reações muito exageradas às situações cotidianas 

 Você tem constipação com frequência "Comer os sentimentos", isto é, ingerir alimentos calóricos por conta do seu estado emocional 

 Dificuldade para dormir