Jeff Orlowski, em seu documentário“O Dilema das Redes”, mostra como desenvolvedores de sites e redes sociais como Facebook, Instagram, Pinterest e Gmail, projetaram o design desses produtos com base em estudos sobre psicologia comportamental.
O ponto de encontro entre programação e psicologia é o Laboratório de Tecnologia Persuasiva da Universidade de Stanford. Com o objetivo autodeclarado de ensinar os programadores do Vale do Silício – região da Califórnia, conhecida por ser o lar de algumas das principais empresas de tecnologia do mundo como Google, Facebook e Netflix – a transformar o comportamento dos usuários de seus produtos. Para cumprir esse objetivo, o laboratório recorreu à obra de um dos maiores especialistas em comportamento do século XX, Burrhus Frederick Skinner.
Ele ficou conhecido pelo seu estudo na área comportamental da psicologia, em especial sobre esquemas de reforçamento. O psicólogo, por meio do Condicionamento Operante, buscava modificar comportamentos por meio dos “esquemas de reforço”. O esquema de reforço ensina o cérebro pela consequência após a ação. Se determinada ação é classificada como “boa”, há um estímulo positivo para que o cérebro repita essa ação no futuro. Quando uma ação é classificada como “ruim”, acontece o contrário: por meio de um estímulo negativo, busca-se ensinar o cérebro a não repeti-la.
Nas redes sociais os reforços positivos são constantes: curtidas, comentários em publicações e atualização dos feeds.
Esses elementos são chamados de reforçadores de razão variável, porque nunca se sabe quando ou em que quantidade essa recompensa virá, como se fosse em uma máquina caça-níquel. Por meio dos esquemas de reforçamento, gradualmente o usuário das redes sociais passa a agir como um apostador: toda vez que olha para o celular, sente vontade de checar seus perfis para ver se há algum prêmio reservado para ele.
Quando esse prêmio está lá, ocorre a liberação de dopamina. Isso ocorre diversas vezes ao dia e exige pouco esforço do usuário, que deve apenas se manter conectado e ativo.
“Eu estou sempre com o meu celular por perto, por mais que eu não esteja usando, o celular está ali”, afirma a estudante de Publicidade e Propaganda e Influencer Digital, Luísa Jurack Leite, de 19 anos.
Luísa usa o Instagram como sua ferramenta de trabalho, seu perfil fala principalmente sobre moda e possui mais de 16 mil seguidores. Pela satisfação e retorno financeiro, a estudante avalia positivamente seu uso da rede social para trabalho, mas admite que poderia melhorar o seu uso como forma de lazer. Com a pandemia, o Instagram tornou-se a sua principal fonte de entretenimento e informação. Mesmo fora do trabalho, ela continua boa parte do seu dia conectada.
“É uma relação de trabalho, mas, ao mesmo tempo, uma relação de dependência porque eu passo quase 70% do meu dia no Instagram”, afirma.
Para o cérebro é muito mais fácil passar um grande período de tempo nas redes sociais ao invés de realizar outras atividades como exercícios ou estudos – isso ocorre devido ao pouco esforço que essas práticas exigem para se obter dopamina.
Afinal, o que parece melhor: sair em pleno verão e correr um quilômetro ou ficar uma hora observando o feed?
Mas esse estímulo fácil tem um preço.
As cargas extras de dopamina ao longo do tempo levam o cérebro a entender que não precisa mais produzir o neurotransmissor nas quantidades habituais. Assim, é preciso gastar cada vez mais tempo nessas atividades para se obter o mesmo nível de prazer. “Sem notar, passaremos a jogar mais, fazer mais sexo, comer mais, fumar mais e etc. em troca da felicidade, da liberação de dopamina”, adverte King.
Dependência digital X dependência patológica
Segundo Anna King, todos nós somos dependentes digitais. Mas antes de procurar a primeira clínica de reabilitação disponível, calma. Isso não significa que você tenha um problema grave.
Dependência digital é o uso da tecnologia em nosso dia a dia, para crescimento pessoal, lazer ou trabalho, como o home office. “Você é dependente da tecnologia, como se você dependesse da sua agenda de papel, mas isso não quer dizer que você está doente”, argumenta a psicóloga.
A dependência patológica, chamada nomofobia, atinge cerca de 15% da população. Anna King explica que a doença geralmente está relacionada com outros transtornos psicológicos como ansiedade, depressão, fobia social, síndrome do pânico e dismorfia corporal.
Por esse motivo é importante a quem considera excessivamente dependente da tecnologia buscar ajuda profissional, pois o problema pode estar além de passar muitas horas na internet ou em videogames.
O grande período de tempo imerso no mundo virtual se torna um refúgio do mundo real. “Geralmente quem busca muito acessar tecnologias em busca de prazer procura preencher algo que falta nele”, afirma.
A psicóloga pondera que o principal motivo para o uso excessivo das tecnologias é a falta de conscientização sobre o tema e não algum distúrbio mental. “Isso não é vício patológico, isso é uma falta de educação digital”.
Por isso é importante consumir vídeos, matérias, livros e outros tipos de conteúdos que falam sobre o funcionamento das redes sociais.
Entender como e porquê elas nos afetam é o primeiro passo para impor limites e usá-las de forma mais saudável.